Falar sobre vida, energia, espiritualidade, religião, sobre Deus e nossa própria existência sempre foi algo que me deixou muito reflexivo. Por algum motivo, eu nunca consegui me aproximar de nenhuma igreja ou religião, mas sempre vivi muito bem com minhas próprias verdades. Não que aquilo em que eu acredito seja mais verdadeiro do que a crença de outra pessoa. Mas porque sempre fez sentido para mim e sempre me conectou genuinamente com algo maior.
No final do ano passado, comecei a ser impactado por um líder cristão e, de uma maneira que nunca tinha acontecido antes na minha vida, me conectei demais à sua forma de pensar e falar. Eu, reticente como sempre, fui atrás dos seus primeiros conteúdos, para entender sua história, seu jeito de enxergar a vida antes da fama e como sua ascensão se desdobrou.
De lá para cá, eu já ouvi todos os seus podcasts. Foram mais de 300 episódios (calma, nem todos eram longos…). A maioria eu escutei enquanto treinava ou corria. Pode parecer estranho, até para mim foi no início. Eu, que nesses momentos sempre escutei músicas que estimulavam a intensidade, de repente estava ouvindo alguém falar sobre Deus enquanto eu testava meus limites físicos e mentais. Curiosamente, fez sentido.
E por que estou contando isso? Porque, há poucos dias, em um desses episódios, ele citou uma frase que não saiu mais da minha cabeça: “Só domina tempestades quem consegue dormir em meio a elas.”
Na hora, eu sabia que aquilo não era só uma frase bonita. Era sobre mim. Era sobre a tempestade que eu tenho enfrentado na minha vida.
A verdadeira força não está no controle
A vida é feita de ciclos e, em alguns deles, as tempestades parecem não dar trégua. O barco balança, a água entra, e você precisa decidir se continua firme ou se entra em pânico. É exatamente aí que se mede a força de alguém. Não pela ausência de tempestades, mas pela capacidade de manter a calma enquanto elas acontecem.
²³ E, entrando ele no barco, seus discípulos o seguiram;
²⁴ E eis que no mar se levantou uma tempestade, tão grande que o barco era coberto pelas ondas; ele, porém, estava dormindo.
²⁵ E os seus discípulos, aproximando-se, o despertaram, dizendo: Senhor, salva-nos! Que perecemos.
²⁶ E ele disse-lhes: Por que temeis, homens de pequena fé? Então, levantando-se, repreendeu os ventos e o mar, e seguiu-se uma grande bonança.
²⁷ E aqueles homens se maravilharam, dizendo: Que homem é este, que até os ventos e o mar lhe obedecem?Mateus 8:23-27
Na Bíblia, há a cena em que Jesus está no barco com os discípulos. Todos desesperados, acreditando que iam morrer, enquanto ele dormia. Mas Jesus não se deixou abalar pela tempestade. Essa passagem me marcou porque mostra que a verdadeira força não está em controlar o que vem de fora, mas em não ser dominado por aquilo que vem de fora.
É esse cenário que eu tenho experimentado. Frequentemente estou diante de situações complexas que não podem esperar e que exigem absoluta clareza e racionalidade em meio ao caos, com decisões rápidas, muitas vezes por instinto, confiando no repertório da minha própria vida. Os desafios têm vindo em ciclos cada vez mais rápidos e intensos, exigindo de mim uma disciplina e resiliência maiores do que eu imaginava ter.
“Você não consegue ligar os pontos olhando para frente; você só consegue ligá-los olhando para trás.” — Steve Jobs
Muitas das escolhas que hoje faço em meio às tempestades que tenho enfrentado se sustentam em pontos que só agora consigo conectar. Histórias que vivi, erros que cometi, aprendizados que acumulei. Toda experiência virou repertório. É nesse repertório que encontro respostas instintivamente que quase ninguém consegue compreender.
Dormir em meio à tempestade não é a mesma coisa que ignorar o perigo, mas reconhecer que você já tem dentro de si o que precisa para atravessá-la. É confiar mesmo quando o barco balança. É entender que a verdadeira autoridade sobre as adversidades nasce de uma paz interior difícil de explicar e da confiança em um propósito maior. É como ter o domínio sobre as dificuldades da vida em vez de ser dominado por elas.
Uma causa justa no jogo infinito
Ontem, depois do almoço, resolvi escolher um livro de fácil leitura para ampliar algumas perspectivas e acabei pegando um que estava esquecido na prateleira: O Jogo Infinito, de Simon Sinek. Confesso: ele tinha chegado até mim (e peço desculpas quem me deu…), mas eu nunca lhe dei a devida atenção. Ontem, por acaso (ou não), decidi pegá-lo.
No capítulo Causa Justa, Simon Sinek conta a história dos guardiões da estação de sementes de Leningrado, durante a Segunda Guerra Mundial. A cidade estava sitiada pelos nazistas. O frio era insuportável, a fome devastava cada família, milhões de pessoas morriam.
Dentro da estação, havia depósitos com milhares de sementes raras, acumuladas por anos de trabalho científico. Os cientistas teriam como sobreviver se optassem por comer as sementes. Mas eles tomaram uma decisão que pareceria absurda a qualquer um: não comeram.
Eles entenderam que aquelas sementes eram mais do que alimento. Eram o futuro. Comer seria sobreviver ao agora. Guardar era proteger o amanhã. Então, morreram de fome protegendo o que significava esperança para as gerações que viriam depois deles.
Essa história me marcou porque traduz, de forma visceral, o que significa jogar o jogo infinito. Quem joga no curto prazo só pensa em atravessar o inverno. Quem joga o jogo infinito protege o que importa mesmo em meio à escassez. No fundo, é disso que se trata liderança em tempos de pressão. É sobre resistir à tentação de fazer o que pode parecer óbvio e ter coragem de fazer o que é certo.
A diferença entre o jogo finito e o infinito está justamente aí. O jogo finito tem regras claras, começo e fim. Tem um vencedor. Já o jogo infinito não termina. O objetivo não é vencer os outros, mas permanecer no jogo, crescendo, evoluindo e lutando por algo maior.
“Nada é mais forte do que aquele que é capaz de enxugar as próprias lágrimas e ainda assim continuar.”
E aqui está uma das maiores verdades sobre tempestades: são poucos os que conseguem manter a visão de longo prazo enquanto o vento bate contra o barco. Porque são poucos os que estão jogando o jogo infinito. Não é à toa que muitos se intimidam com a pressão, mas somente alguns prosperam por causa dela.
Eles precisam saber
Por que falar de tempestades? Porque, nos últimos meses, tenho vivido uma intensa. Eu diria que um super furacão. Não posso abrir tudo agora, por uma questão de contexto e também por estratégia, mas em breve vou compartilhar os bastidores do que tem acontecido. Tem sido um processo de decisões pesadas, de muito aprendizado, mas também de muito orgulho.
“Seja firme na visão, mas flexível nos detalhes.” — Jeff Bezos
Por ora, o que posso compartilhar é que tem muita coisa incrível acontecendo sem precisar do meu comando direto. É o que eu sempre digo: abra espaço para o time. Confie. Dê autonomia. O lançamento da newsletter Vértice (tegr.us/vertice) é um exemplo perfeito. Conteúdo de qualidade com aquele molho especial… tudo conduzido e desdobrado integralmente pelo time. O resultado tem sido incrível.
E é assim que negócios são tocados. Você precisa deixar o seu time navegar e explorar os oceanos. Mas, se precisarem de ajuda, você precisa estar pronto para assumir em meio à tempestade. Eles precisam sentir e saber que podem confiar suas vidas e seus sonhos a você.
Porque outras tempestades virão
No fim, dominar tempestades não é eliminar problemas ou evitar pressões. É aprender a enfrentá-las com visão de longo prazo, entendendo que cedo ou tarde novas virão. É confiar que algumas ondas vão bater, mas o barco não vai virar. E, se virar, que você encontre um jeito de desvirar.
É manter a visão infinita de que o que você está construindo, e com quem está construindo, precisa estar genuinamente conectado ao que você acredita. Porque sim, vai ser difícil. Sim, vai doer. Mas você não pode ser controlado pelas adversidades.
Tempestades são diagnósticos implacáveis. Elas expõem se o seu jogo é finito ou infinito. No jogo finito você corre para salvar o placar do dia e negocia valores para aliviar a dor agora. No jogo infinito você protege a causa, mesmo quando dói, porque sabe que permanecer no jogo vale mais do que vencer a rodada. No fim, a tempestade revela menos sobre o vento e mais sobre quem você é.
Sempre levo comigo a frase “quem tem um porquê enfrenta qualquer como”. Porque, no fim, não é sobre vencer no dia difícil. É sobre sustentar uma causa justa e construir algo que continue mesmo depois que a tempestade passar. E é aqui que o jogo infinito se conecta: não se trata de vencer a tempestade de hoje, e sim de como vencer e continuar jogando, fazendo o que precisa ser feito, sabendo que outras virão. Porque elas virão.
E você? Quem é você em meio às tempestades?
THGD
Felipe Lomeu