Esse título não foi à toa. Hoje eu acordei e pensei: "Hoje não vai ter conteúdo."
Essa é a 16ª publicação que faço aqui no Substack. São 16 domingos seguidos escrevendo desde que me comprometi a fazer uma publicação por semana. Hoje também completei 173 dias consecutivos com pelo menos 30 minutos por dia de atividade física. Com uma rotina tão intensa e tantos compromissos, o “hoje não” passou pela minha cabeça inúmeras vezes. E para ser honesto, esse pensamento passa o tempo inteiro. Seja nos compromissos que assumi comigo mesmo ou com qualquer outra pessoa.
Essa noite eu dormi 13 horas. Eu estava exausto. E como dormi demais, acordei com a famosa ressaca do sono e uma vontade enorme de passar o domingo à toa. Mas é aquela história:
“Criança faz o que quer. Adulto faz o que precisa para conseguir o que quer.”
Levantei. Tomei meu shot matinal de limão com bruxarias, engoli meus suplementos e fui treinar. Nos primeiros minutos de esteira, eu já estava convencido: claro que hoje vai ter conteúdo.
O que eu não esperava era que, ainda na esteira, ao colocar um episódio do PrimoCast com Paulo Muzy e Guilherme Batilani, uma fala fosse me acertar em cheio. Nele, Muzy diz que o senso comum nos faz entender que a motivação é para fazermos, o compromisso é para continuarmos, e a consistência é para realizarmos. Mas depois de se aprofundar no tema, ele passou a enxergar de outro jeito:
“A motivação é para começar. O compromisso é para terminar. E o uso da motivação adequada com o compromisso certo gera consistência.”
Ele continua dizendo que a motivação está ligada ao propósito e o compromisso à força interior. Mas que, sobretudo, nada disso adianta se faltar felicidade. Porque a consistência, para quem é feliz, vira realização. E para quem está infeliz, vira punição. O sucesso vem para pessoas felizes, porque elas transformam a consistência numa execução satisfatória em suas vidas. Enquanto as pessoas infelizes transformam a consistência numa punição.
Foi aí que uma pergunta me acertou como um soco: O que estou fazendo está sendo satisfatório ou está sendo uma punição? E antes que eu percebesse, já estava preso em outra pergunta: Eu sou feliz?
A obsessão como identidade
Eu não sei para você, mas é difícil responder essas perguntas com simplicidade. E não por falta de motivos para ser feliz. Ao contrário, minha vida hoje tem estrutura, propósito, muita gente boa ao redor, e uma rotina que está muito mais equilibrada do que já foi um dia. Não tenho motivos pra dizer que sou infeliz. Mas, ao mesmo tempo, carrego uma inquietação que parece fazer parte da minha natureza que é difícil de explicar. É como se eu tivesse sede e uma fome vital por mais. Um drive quase biológico de querer mais e mais. E eu não consigo desligar… mesmo quando está tudo bem, eu ainda quero mais.
No livro Implacável, Tim Grover define isso como uma obsessão. Ele diz que o que separa os medíocres dos implacáveis não é talento nem sorte. É fome. Uma fome que não diminui com a conquista, que não precisa de plateia e que não espera aplauso. Ele escreve:
“Ser implacável significa exigir mais de si mesmo do que qualquer um poderia exigir. Saber que cada vez que você parar, ainda poderia ter feito mais. Sempre mais.” – Tim Grover
Ainda no podcast, perguntas como: “No que eu sou bom? O que me desafia? Eu tenho paciência fazendo o que estou fazendo? Se dinheiro não fosse um problema, o que eu faria?” dão a impressão que encontrar as respostas parece ser uma tarefa simples. Mas quando pensadas e respondidas com sinceridade, essas perguntas escancaram verdades difíceis de engolir. Porque se a consistência está te destruindo, talvez o problema não seja a consistência.
Concordo com Grover quando ele diz que muita gente quer ser consistente. Mas, sem identidade, a consistência vira prisão. Você se torna refém de um esforço forçado, que só funciona quando há motivação. É por isso que ele insiste: “você não faz quando quer. Você faz porque é isso que você faz. É quem você é. Identidade não tira folga”.
Jocko Willink vai exatamente na mesma direção. Para ele, “quando você sente que não quer fazer, esse é exatamente o momento em que precisa fazer”. Não é sobre vontade. É sobre quem você decidiu ser. E não é à toa que eu me identifico com os dois. Porque eu já ouvi essa voz muitas vezes. E, quase sempre, ela tenta negociar comigo. Mas se tem uma coisa que aprendi, é que negociar com essa voz só me afasta de quem eu estou me tornando.
Por isso, se você precisa de motivação o tempo todo para fazer algo, talvez ainda não tenha assumido aquilo como parte da sua identidade. E isso vale para o trabalho, para o treino, para a sua vida, para qualquer coisa.
Não subestime o poder de fazer o que precisa ser feito
Volto à pergunta: eu sou feliz?
A resposta, pra mim, tem menos a ver com alegria e mais a ver com a minha identidade e com o que eu tenho buscado para a minha vida. Quando estou em paz com minhas decisões, mesmo nos dias difíceis, me sinto bem. E sim, eu sei o que é me sentir bem e o que é estar em paz, porque eu já estive do outro lado.
“Você não pode ser implacável se está sempre esperando o momento certo. Você faz o momento ser certo. Sempre.” – Tim Grover
Eu sei por que continuo escrevendo aqui todos os domingos. Não é porque tenho tempo de sobra. Nem porque estou sempre inspirado. É porque faz sentido. Porque esse exercício me obriga a parar e pensar. Porque cada publicação é uma expressão concreta do compromisso que eu tenho com o meu próprio desenvolvimento e meus objetivos. E isso me faz melhor.
E quanto mais escrevo, mais percebo que a verdadeira consistência não vem da força de vontade. Ela vem do por que comecei e do que estou construindo.
Se você está cansado, se o dia não começou como gostaria, se a vontade era de largar tudo, talvez o que esteja faltando não seja motivação. Talvez seja só lembrar que compromisso não depende do humor do seu dia. Depende da decisão que você tomou antes do dia começar.
David Goggins, conhecido por sua brutalidade mental e física, costuma dizer que temos que construir a nossa própria armadura, um dia de cada vez. E isso só acontece quando vencemos a voz da nossa cabeça que diz “hoje não”. Talvez esse texto não seja sobre o meu dia. Talvez ele seja só sobre essa conversa interna que todos temos. E sobre a escolha de não aceitarmos as nossas próprias desculpas.
Não subestime o poder de fazer o que precisa ser feito, especialmente nos dias em que tudo em você diz “hoje não”.
THGD
Felipe Lomeu
“Não pare quando estiver cansado, pare quando tiver terminado.” - Goggins
mt bom texto, Felipe