O problema não é seu time. É você.
O papel do líder não é fazer tudo. É fazer os outros fazerem melhor.
Durante minha trajetória, tive a oportunidade de conviver com líderes brilhantes, inspiradores e verdadeiramente corajosos. Mas também presenciei líderes que, mesmo com as melhores intenções, eram o maior gargalo de suas próprias empresas. O motivo quase sempre era o mesmo: falta de coragem para soltar o controle.
Jack Welch, um dos maiores CEOs da história, dizia: “Antes de ser um líder, o sucesso é sobre você. Quando você se torna um líder, o sucesso passa a ser sobre os outros.” E aqui está o ponto-chave. Liderança que realmente funciona não tem nada a ver com controle, microgerenciamento ou centralização. Tem a ver com clareza, confiança e responsabilidade.
“Liderança é tornar os outros melhores com o resultado da sua presença e garantir que esse impacto dure na sua ausência.” – Sheryl Sandberg
Liderar é abrir mão do ego para servir a um propósito maior. É ter clareza suficiente para apontar a direção, coragem para soltar o controle e maturidade para colocar os outros no centro do jogo. O sucesso de um líder não se mede pela sua capacidade de fazer tudo sozinho, mas pela habilidade de construir times fortes, confiáveis e preparados para tomar decisões sem depender de ordens constantes e aprovações para tudo.
Você é o maior gargalo da sua empresa
Para começar, se você acha que o problema da sua empresa está no seu time, você está errado duas vezes. Primeiro, porque foi você quem escolheu esse time. Segundo, porque é bem provável que você seja o maior gargalo da empresa. E não por falta de competência, mas por ainda ocupar um espaço que já deveria ter sido transferido para outras pessoas. Quando o líder não solta o controle, impede que o time assuma responsabilidades reais. E isso alimenta um ciclo vicioso: o time não se desenvolve porque o líder não confia, e o líder não confia porque o time não se desenvolve.
Crescimento exige coragem para sair do centro e maturidade para construir um sistema onde os outros possam brilhar sem depender de você. Quando digo que o problema é você, não é uma crítica à sua capacidade. É um alerta sobre o excesso de controle, o medo de perder o protagonismo e a vaidade disfarçada de zelo. Esse é o verdadeiro tripé do gargalo:
Controle: microgerenciamento disfarçado de cuidado. A crença de que, se você não fizer, ninguém fará tão bem quanto. A ilusão de que centralizar é proteger, quando na verdade só está limitando os resultados.
Medo: de perder relevância, de não ser mais necessário, de ser substituído. Medo de largar decisões e descobrir que o time funciona melhor sem você por perto o tempo todo.
Vaidade: o desejo inconsciente de ser indispensável. A certeza silenciosa de que só você tem as respostas certas. De que ninguém vai fazer do seu jeito e que o seu jeito é o melhor.
Esses três elementos, quando combinados, são uma bomba-relógio. Impedem o crescimento da empresa, sufocam a autonomia do time e colocam o líder no centro de tudo. Enquanto o líder continuar achando que o problema está nos outros, vai seguir sendo parte do problema, não da solução.
Liderar é soltar o controle
Jim Collins, autor do clássico Empresas feitas para vencer, deixa claro: os grandes líderes começam com quem, não com o quê. A analogia do ônibus, usada por ele, é poderosa. Os líderes verdadeiramente eficazes não decidem primeiro para onde vão e só depois escolhem quem vai com eles. Eles fazem o oposto. Primeiro colocam as pessoas certas no ônibus, as pessoas certas nos assentos certos e as erradas para fora. Só então decidem o destino.
Em tempos de incerteza e mudança constante, como vivemos hoje, a melhor estratégia é ter um time capaz de se adaptar e performar bem independentemente da rota. Se as pessoas estão ali apenas pelo destino prometido, qualquer mudança de direção pode gerar desânimo ou abandono. Mas, se estão ali pelas pessoas ao redor, pela confiança no time e pelo propósito comum, elas se adaptam mais rápido e contribuem para encontrar o melhor caminho.
Quando você tem as pessoas certas, o problema de motivação praticamente desaparece. Elas não precisam ser microgerenciadas nem convencidas todos os dias. Têm impulso interno, senso de dono e compromisso com o resultado. Por outro lado, com as pessoas erradas, nem a melhor estratégia salva.
Liderança começa com a escolha das pessoas certas. Não é sobre segurar o volante sozinho, mas sobre montar um time maduro, comprometido e com autonomia para decidir o melhor caminho e recalcular a rota quando necessário.
Progresso primeiro, ordem depois
Autonomia não é ausência de controle. É clareza de responsabilidade. E clareza não diz respeito apenas ao que precisa ser feito, mas também ao porquê, ao como e aos critérios que norteiam cada decisão. Não adianta exigir autonomia do seu time sem criar o ambiente necessário para que ela se desenvolva, ganhe força e se torne parte da cultura da empresa.
Construir autonomia começa com três pilares: clareza, processos e confiança. Clareza para que cada pessoa saiba exatamente qual é sua responsabilidade, os objetivos e os limites para tomar decisões. Processos bem definidos para garantir consistência e previsibilidade, reduzindo dúvidas, erros e desalinhamentos. E confiança genuína nas pessoas que você mesmo escolheu para caminhar ao seu lado.
“– Quem estará nas trincheiras ao teu lado?
– E isso importa?
– Mais do que a própria guerra.” - Ernest Hemingway
Esse é um dos maiores desafios da liderança moderna: desenvolver rotinas, padrões e documentos que sustentem a autonomia sem sufocar a iniciativa. Na Tegrus, por exemplo, temos investido tempo e energia em processos e ritos de alinhamento que sustentam essa base. E vivemos sempre na tensão entre dois extremos: documentar demais e engessar a equipe ou documentar de menos e depender de improvisos e da memória individual.
Encontrar o equilíbrio entre a “ordem e o progresso” é um desafio contínuo. Saber quando a ordem está minando a criatividade ou quando a falta de clareza está alimentando a confusão é parte essencial do trabalho de quem lidera. A verdadeira autonomia não deve nascer do caos, mas também não vai sobreviver ao excesso de burocracia.
Eficiência real nasce da escuta ativa, do ajuste contínuo dos processos e da coragem de abrir mão da perfeição em favor da velocidade e do aprendizado. Reed Hastings, fundador da Netflix, diz que controle é uma alavanca fraca e que liberdade com responsabilidade é muito mais poderosa. Ambientes de alta performance não nascem do controle absoluto, mas da combinação de autonomia e direção.
“Os melhores gestores descobrem como obter ótimos resultados definindo o contexto apropriado, em vez de tentar controlar seus funcionários.” - Reed Hastings
Quanto mais você tenta controlar cada passo do time, menos margem existe para inovação, iniciativa e senso de dono. Já a liberdade com responsabilidade cria um espaço onde as pessoas se sentem vistas, confiáveis e corresponsáveis pelos resultados. Não trabalham com medo. Trabalham com propósito. Como reforça Patty McCord, ex-diretora de talentos da Netflix, a cultura não é algo que você impõe, é o que você incentiva, reforça e modela todos os dias.
Ocupado demais para liderar
Muitos líderes confundem liderança com estar ocupados. “Estou ocupado demais para liderar” é a desculpa mais comum. Mas, na prática, essa frase quase sempre esconde uma escolha inconsciente: a de se esconder no operacional, lugar geralmente confortável para evitar decisões difíceis, conversas incômodas ou conflitos necessários. Manter-se ocupado é, muitas vezes, uma forma de evitar os desafios que vêm com a verdadeira liderança.
Nesse movimento, o líder deixa de liderar. Torna-se uma engrenagem do sistema que ele mesmo deveria estar aperfeiçoando. O time fica travado, as decisões demoram e a dependência do líder cresce. O resultado: a empresa anda de lado e performa muito abaixo do seu potencial.
Isso gera uma armadilha ainda mais sutil: o líder se convence de que está sendo produtivo, quando na verdade está apenas apagando incêndios que poderiam ser evitados com decisões estruturais mais assertivas. Essa falsa sensação de utilidade é viciante. Dá a impressão de relevância, de protagonismo, de indispensabilidade. Mas o verdadeiro papel do líder não é manter a máquina funcionando aos trancos. É parar a máquina quando necessário, questionar sua lógica e redesenhar as engrenagens para que funcione melhor, com ou sem ele.
Peter Drucker já dizia: “Não há nada tão inútil quanto fazer com grande eficiência algo que nem deveria ser feito.” Em outras palavras, eficiência sem direção é só movimento. E esse é um luxo que nenhuma empresa pode se dar.
O que você planta, você colhe
Responsabilidade compartilhada é criar um ambiente onde erros não geram medo, mas aprendizado. Onde se confia que, mesmo quando algo sai do esperado, o time terá maturidade para corrigir, aprender e seguir mais forte.
“Não faz sentido contratar pessoas inteligentes e dizer a elas o que fazer. Contratamos pessoas inteligentes para que elas nos digam o que fazer.” - Steve Jobs
Essa citação reflete uma visão de longo prazo sobre liderança. Em vez de criar dependência, grandes líderes constroem capacidade. Jobs acreditava que a inteligência das pessoas só gera valor real quando há espaço para ela se manifestar. E isso exige não apenas visão, mas humildade para ouvir e coragem para confiar.
Mais do que isso: exige tempo. Relações sólidas precisam de tempo. Confiança não nasce do dia para a noite. E lealdade não é um contrato, é uma construção diária. Não é à toa que grandes empresas são feitas por grandes times. E grandes times só existem quando as pessoas têm tempo para amadurecer, aprender umas com as outras, enfrentar crises juntas e se desenvolver de forma contínua.
Liderar com visão de longo prazo significa reconhecer que pessoas são o maior ativo de qualquer negócio. E que, para colher resultados sustentáveis, é preciso plantar vínculos de confiança e regar essas relações com consistência. Nenhuma cultura forte e nenhum time maduro surge da noite para o dia.
Crescimento real exige que você saia do caminho. Que confie, que delegue, que suporte erros e celebre aprendizados. Porque, no fim do dia, liderança não é sobre ter todas as respostas. É sobre criar um sistema onde as melhores respostas possam emergir.
Soltar o controle é desconfortável. Mas é necessário. E talvez essa seja a decisão mais importante que você, como líder, possa tomar hoje: deixar de ser o centro e passar a ser a base onde os outros vão se apoiar para crescer.
Enquanto isso, o problema não é seu time. É você.
THGD
Felipe Lomeu
“E vivemos sempre na tensão entre dois extremos: documentar demais e engessar a equipe ou documentar de menos e depender de improvisos e da memória individual.”
“Porque, no fim do dia, liderança não é sobre ter todas as respostas. É sobre criar um sistema onde as melhores respostas possam emergir.”
Essas duas partes me pegaram bastante, acredito veementemente nessas afirmações.
Obrigado por compartilhar!
Pô! Animal essa aula, continue! ⚡️⚡️⚡️