Quanto tempo você ainda tem para perder?
O tempo não espera por quem se recusa a virar a página da vida
Ano após ano, me vejo refletindo sobre o tempo em diferentes perspectivas. Não só como uma unidade de medida, mas como uma lente brutal de análise sobre nossas escolhas.
Vivemos em um mundo sobrecarregado de informações e ruídos. Opiniões por todos os lados, fórmulas prontas, verdades relativas sobre o que é certo ou errado. Para cada decisão que tomamos, existem dezenas de vozes dizendo o que devemos ou não fazer. E a maior parte de nós vive sem perceber, seguindo direções de terceiros, repetindo padrões sociais, expectativas profissionais ou familiares, sem clareza sobre o que queremos de verdade.
Nos perdemos nesse processo. Perdemos nossa essência, nosso propósito, nossa presença. Entramos num piloto automático que nos empurra para uma direção qualquer. Executamos tarefas, aceitamos convites, vivemos os sonhos dos outros, mantemos rotinas sem lembrar, ou sequer saber, por que começamos ou onde tudo isso vai nos levar.
O custo de adiar o inevitável
Existem relações profissionais, familiares, amizades... tantas delas já quebradas, que nos fazem perder muito tempo. Relações que não têm presente e muito menos futuro, mas que seguimos sustentando. Por apego. Por medo. Por culpa. Por esperança. Por qualquer justificativa que nos convença a adiar o fim que, lá no fundo, sabemos que é necessário.
A verdade é que muitas vezes escolhemos outras batalhas enquanto alimentamos a ideia de que o tempo sozinho vai consertar o inconsertável. Mas não conserta. O tempo só passa.
E dependendo do que ou de quem escolhemos manter ao nosso lado, nossa vida passa junto.
Não escrevo este texto como exemplo a ser seguido. Muito pelo contrário. Escrevo justamente porque, ao longo da minha vida, fui péssimo nisso. Sustentei relações muito além do que deveria. Me mantive iludido, preso numa esperança de que alguma hora as coisas melhorariam. Mas elas nunca melhoraram. E o custo disso é sempre alto. Muito alto. O tempo simplesmente passou. Parte da minha vida foi perdida.
Há uma frase que me acompanha há anos, atribuída a Napoleão Bonaparte:
"O tempo é o único bem totalmente irrecuperável. Recupera-se uma posição, um exército e até um país, mas o tempo perdido, jamais."
O tempo, para muitos, é algo que simplesmente passa e está tudo bem. Essas pessoas são as que geralmente estão em busca de atividades que “passam o tempo”. Mas para mim, tempo é vida. É meu ativo mais precioso. É por isso que invisto tanto tempo buscando encontrar maneiras de ter mais. Automatizo, organizo, simplifico. Compro o tempo de muitas pessoas.
Mas aqui está o ponto crítico: não adianta comprar tempo se você continua desperdiçando o tempo que já tem. Assim como nas finanças, não adianta aumentar a renda se você aumenta o gasto junto. Ganhar tempo faz tanto sentido quanto parar de perder tempo.
Não temos mais o tempo que passou
Quando deixamos de questionar o que fazemos, por que fazemos, para quem fazemos, com quem fazemos, há uma grande chance de estarmos indo na direção errada. E ir para a direção errada, rápido ou devagar, é o jeito mais eficiente que existe para perder tempo.
Escrevi sobre esse tema porque hoje é um daqueles dias difíceis. Um dia de decisão. Uma das mais difíceis da minha vida. Passei anos adiando, tentando outras saídas, procurando caminhos alternativos. Mas o custo de seguir adiando não é mais tolerável. Não é justo. E eu, finalmente, aceitei isso.
Provavelmente serei julgado, mal interpretado, criticado. Faz parte. Toda escolha tem um preço. Mas o que não dá é pra continuar sustentando o insustentável enquanto não fazemos algo por nós mesmos. Algo que faça nossa vida ter mais sentido.
A verdade é que sinto que eu perdi tempo. Um tempo irrecuperável. Lembro agora da música Tempo Perdido da Legião Urbana, que diz:
"Todos os dias quando acordo, não tenho mais o tempo que passou.
Mas tenho muito tempo. Temos todo o tempo do mundo."
Essa música sempre me inspirou. Mas hoje ela me provoca ainda mais. Porque, sim, temos muito tempo, mas só se tivermos coragem de parar de desperdiçar o que temos agora. Por isso, hoje deixo aqui uma reflexão que faço a mim mesmo e talvez sirva pra você também:
Quais relações você está sustentando hoje, mesmo sabendo que não têm mais futuro?
Quantos projetos ou decisões você está adiando porque não quer enfrentar as consequências do rompimento?
Quantas vezes você já se pegou acelerando em direção a algo que nem sabe mais se quer?
Quanto tempo ainda pretende gastar com aquilo que já demonstrou não fazer mais sentido?
A resposta pode não ser fácil. Nem confortável. Mas é certamente necessária.
Porque o tempo não se recupera.
E a vida também não.
THGD
Felipe Lomeu