Todo negócio, no início, parece mais leve, mais ágil, mais criativo. E de fato é. Existe uma liberdade instintiva, uma proximidade entre as pessoas, uma velocidade de resposta que faz tudo parecer mais simples. O problema é que funciona... até não funcionar mais.
No começo, tudo se resolve com conversas diretas, alinhamentos improvisados, mensagens rápidas no WhatsApp ou no que estiver mais à mão. É fluido, quase orgânico. Mas, à medida que o negócio cresce, cresce também a complexidade. E ela costuma chegar antes dos resultados. Quando você percebe, está correndo descalço em alta velocidade, desviando de cascas de banana espalhadas pelo caminho. É aí que o dia a dia começa a travar e você começa a cair.
As oportunidades e entregas se perdem. Os erros ficam mais caros. O que antes fluía natural, agora trava em algum gargalo invisível, que você sequer consegue identificar. Você tenta resolver tudo na raça, tirando da cabeça, improvisando. Mas, por mais esforço que faça, chega uma hora em que simplesmente não dá mais conta.
Você entra no modo bombeiro. Apagando incêndio atrás de incêndio. E deixa de ter tempo, e energia, para pensar no crescimento do negócio. Nessa hora, muita gente se perde. E, de tanto tropeçar, errar e remendar o dia a dia, chega um momento em que não consegue mais juntar forças para levantar e seguir em frente.
Crescer sem sistema é o mesmo que romantizar o caos. É acreditar que fazer de qualquer maneira vai te levar longe. Mas sistema não é sobre tecnologia ou ferramenta. Sistema é estrutura. É ter processo, clareza, documentação, critério, governança. É saber como algo começa, se desdobra e termina, sem depender da memória, do improviso ou da boa vontade de alguém brilhante.
Crescer sem sistema pode até parecer funcionar. Mas no longo prazo, essa conta chega. E pode custar o próprio negócio.
Seu negócio não é uma exceção
Existe um padrão comum entre os empreendedores com quem já conversei e trabalhei: a crença de que o próprio negócio é uma exceção. Como se fosse especial. Às vezes pelo modelo, às vezes pelo público, às vezes pelo segmento.
Eles dizem: "Meu negócio é muito relacional…", "Meu funil é diferente…", ou ainda "Aqui tudo é mais político…".
Sim. Todo negócio tem suas particularidades. Mas quase todos são mais parecidos do que diferentes. E quase todos se beneficiariam de aplicar fundamentos que já foram testados e validados em diversos contextos.
O mais difícil não é encontrar fundamentos ou metodologias que façam sentido. É estar disposto a enxergar os próprios desafios e as possíveis soluções com o coração aberto.
Você sabe, ou deveria saber, que não funciona assim
Depois de aceitar que seu negócio não é uma exceção, vem outro erro comum: buscar referências, estudar soluções e tentar encaixar o negócio dentro de metodologias e modelos prontos. Como se bastasse copiar um método ou seguir uma fórmula mágica para resolver tudo.
Mas você sabe, ou deveria saber, que não funciona assim.
Você precisa conhecer profundamente o seu negócio e os desafios que precisa resolver. Preferencialmente, comece pelo que está travando seu crescimento. Você precisa entender o contexto, o momento, os recursos disponíveis. E depois de encontrar a solução mais adequada, será preciso ajustar, personalizando para o seu negócio.
O maior erro é aplicar uma solução de forma enlatada, sem adaptação. Vejo com frequência profissionais que escutam uma referência, leem um post ou fazem um curso, e no dia seguinte já querem aplicar tudo do mesmo jeito, sem nenhum ajuste de contexto.
Você sabe que não existe fórmula mágica, mas parece que ainda quer encontrar uma.
Outro ponto importante: solução boa é aquela que resolve o seu problema, não a que está na moda. Não existe ferramenta ou metodologia melhor em termos absolutos. Existe o que funciona melhor de acordo com cada contexto. E esse contexto muda o tempo todo. O que funciona hoje, talvez não funcione amanhã, porque o negócio mudou, o mercado mudou ou sua visão mudou.
A marreta não foi projetada para pintar parede
Muita gente ainda confunde sistema com tecnologia. Compra um CRM sem ter processo comercial. Investe em automação sem ter o fluxo mapeado. Contrata IA sem ter dados estruturados.
O resultado? Ferramentas subutilizadas, times confusos, desperdício de tempo e dinheiro. Se o input for ruim, o output será pior ainda.
Tecnologia não é sistema. Ferramenta não é processo. Sistema é muito mais do que isso: é a lógica por trás, o encadeamento que organiza, conecta e estrutura. É o que dá clareza, repetibilidade e direção. Só depois, e só com isso claro, a tecnologia entra para otimizar e dar eficiência.
Tecnologia não é solução mágica. É alavanca. Multiplica o que já está claro. Amplifica o que já funciona. E, quando o que está por trás é bagunçado, confuso ou inconsistente, a tecnologia só vai potencializar o caos.
Antes de escolher a marreta, entenda o que precisa quebrar. Só depois pense na ferramenta.
A mentalidade do crescimento
Para quem caiu de paraquedas ou está começando a estudar o tema agora, vale explicar: Growth (ou Growth Hacking) é uma abordagem nascida no ambiente das startups, empresas jovens criadas para testar modelos de negócio escaláveis, geralmente com poucos recursos e alta incerteza.
Growth surgiu da necessidade dessas empresas crescerem rápido e com eficiência. Com o tempo, essa mentalidade deixou de ser exclusiva das startups e passou a ser adotada por empresas de todos os tamanhos.
Seu foco é simples e poderoso: encontrar formas sustentáveis de crescer com base em experimentação, dados e foco extremo no cliente. Na prática, isso significa resolver a falta de tração do negócio, ajudando a transformar um marketing que não converte, produtos que não engajam e times comerciais que não vendem em motores de crescimento mais eficientes e integrados.
Enquanto o marketing tradicional foca em marca e o comercial em fechamento, Growth conecta tudo: aquisição, ativação, retenção, receita, recomendação. É o olhar para o todo.
“Growth não é vendas nem marketing. Growth é uma mentalidade de constante busca por crescimento, de forma eficiente, com base em dados e melhoria contínua dos processos — do começo ao fim do seu negócio, sempre com foco no cliente.”
— Bruno Nardon
Mas Growth não é fazer tudo ao mesmo tempo. Não é sair testando qualquer coisa. Não é intuição solta. Growth é método. É criar hipóteses, testar com critério, medir impacto, interpretar dados e ajustar com base em aprendizado.
Quem não tem método, repete erros e tenta a sorte. Quem tem, aprende com os erros e acertos. E é nesse processo, com essa mentalidade, que empresas crescem com consistência.
"Não é sobre errar ou acertar. É sobre saber por que errou ou acertou."
Trazer a mentalidade de Growth para o dia a dia é simples: você cria uma hipótese → trabalha nela → mede → interpreta → ajusta → recomeça.
O maior obstáculo para adotar essa mentalidade são os times que insistem em fazer o que fazem como sempre fizeram, achando que porque deu certo um dia, vai continuar dando no futuro. Mas quando essa barreira é superada, os ganhos costumam ser extraordinários.
E quando essa mentalidade encontra um sistema, nasce o RevOps.
Para crescer, você precisa de um sistema de verdade
Se Growth é o motor, RevOps é o volante. É a estrutura que garante consistência, previsibilidade e eficiência no crescimento.
RevOps (abreviação de Revenue Operations) integra marketing, vendas e sucesso do cliente. Une processos, dados e tecnologia para gerar decisões mais inteligentes, maior controle e melhor execução.
RevOps garante que o esforço para atrair, converter e reter clientes não dependa de sorte. E que cada etapa da jornada funcione de forma orquestrada.
Mais do que uma buzzword, RevOps é uma forma de operar com mais inteligência e menos desperdício. Mesmo que você torça o nariz para o termo, recomendo não ignorar o valor do que está por trás. Quando implementado adequadamente, o RevOps transforma a operação e desbloqueia o crescimento com menos esforço e mais resultado.
Não é só no discurso de quem atua nessa área, como eu, que RevOps vem ganhando força. As maiores consultorias do mundo, como Deloitte, PwC, KPMG e EY, já reconhecem essa abordagem como uma das principais chaves para o crescimento sustentável, especialmente em mercados complexos e altamente competitivos. Segundo estudos recentes, empresas com operações de receita bem integradas e orientadas por dados não apenas crescem mais rápido, como também apresentam margens mais altas e maior resiliência durante crises. A maturidade em RevOps, inclusive, tem sido apontada como um diferencial estratégico em processos de fusões e aquisições, por alinhar pessoas, processos e tecnologia de forma sinérgica e escalável.
O caos pode até parecer heroico, mas não é sustentável
Pode parecer contraditório, mas não é: Sistema não é burocracia. É autonomia.
É poder delegar sem medo. Decidir com base em dados. Agir com segurança. É tirar o peso das costas do talento individual e permitir que o negócio funcione mesmo sem depender de alguém brilhante o tempo todo.
Crescer com consistência não é fazer mais. É fazer melhor. Com método, com clareza, com estrutura. Repetidamente.
Esse é o verdadeiro jogo de quem constrói para durar. E só joga esse jogo quem tem sistema.
Porque no final das contas, o caos pode até parecer heroico. Pode até gerar admiração temporária. Mas ele não é sustentável.
É o sistema que garante continuidade, eficiência e consistência. É ele que transforma esforço em resultado, crescimento em margem e visão em realidade.
O sistema é o que permite que o negócio siga funcionando mesmo quando você não está por perto. Que novas pessoas entrem no time e performem bem. Que decisões sejam tomadas com menos fricção e mais confiança. Que a máquina continue rodando, enquanto você pensa no próximo passo.
Se você está construindo algo que pretende durar, seja um time, um produto ou uma empresa, o sistema não é um detalhe. É o que vai segurar tudo de pé quando as coisas ficarem difíceis.
E elas vão ficar.
E você? Tem um sistema ou ainda depende da sorte?
Na próxima publicação, vou abrir os bastidores e mostrar como organizo os meus sistemas. O que já deu certo, o que me fez errar e por que, hoje, não abro mão de ter um sistema de verdade.
THGD
Felipe Lomeu